sábado, 4 de abril de 2009

Tá com medo, tabaréu?...


..É de linha de carretel! Assim gritavam os moleques que povoaram minha infância no subúrbio de Marechal Hermes, no Rio de Janeiro, toda vez que ostentavam no ar uma boa pipa, com linha nova, de carretel, sem emendas, com cerol “bala” aplicado (mistura de vidro moído com cola de madeira derretida no fogão), ou seja, mais resistente para as acrobacias dos cruzamentos contra as pipas de rivais. Era como um grito de guerra, um chamamento para o duelo quando os outros tentavam se esquivar e fugir, arriando ou desviando suas pipas da perseguição do caçador implacável. Era um ato tão orgulhoso que não suportava blefe. Quem gritava apregoando estar forte, geralmente estava. Quem pagava para ver geralmente se danava, e perdia sua pipa.
Dias atrás, conversando sobre isso com um amigo e colaborador, ele ousou definir a expressão “tabaréu” (alguns dizem “cambaréu”) como cambada, o que faz muito sentido, uma vez que o grito tinha como endereço uma cambada (no sentido de coletivo) de moleques.
Definições a parte, emergem as lembranças de minha infância saudável e feliz. Um tempo em que as “cambadas” se divertiam, além de soltar e correr atrás de “pipa avoada”, jogando bola nas ruas, sobre o paralelepípedo, em meio aos ônibus que passavam, quando a pelada não cumpria seu acordo ético de parar o jogo. Tempo de jogar peão, bola de gude, brincar de carniça, da magia de tentar alcançar o mais alto ponto do céu fazendo e soltando balões, de andar de bicicleta, de se arrumar aos domingos para paquerar em busca da primeira namorada. Tudo na mais pura inocência, exceto o cerol e os balões, para os quais ainda não tínhamos a consciência exata sobre os danos que poderiam ocasionar para outras pessoas. Nada comparado, no entanto, aos perigos que estão expostas as crianças de hoje através da utilização maciça e quase exclusiva de seus tempos livres dedicados a internet, em especial, aos jogos (games) que cultuam a violência.
Neste exato instante que escrevo esta postagem, milhares de crianças pobres que não possuem computador em casa estão lotando as lan houses, em busca de um confronto muito mais perigoso e brutal que o incitado outrora pelas disputas por pipas de bambu, linha e papel fino. Jogos como os que me refiro, foram (e ainda são) capazes de treinarem qualquer adolescente em tática e estratégia de combate, com manuseio (virtual) de armas letais. Neles, apontam estudos, se inspiraram jovens com personalidade psicopata para matarem dezenas de pessoas, e se suicidarem. De tempos em tempos, em intervalos lamentavelmente cada vez mais curtos, uma nova manchete sobre o assunto é destacada na mídia.
Em 2008, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul impediu a importação do jogo eletrônico Bully, game em que o protagonista, um adolescente de 15 anos, pretende se consolidar como o valentão da escola onde estuda. A partir daí, além das brigas, cria pequenas bombas, dentre outros exemplos. Meses antes, a Justiça Federal de Minas Gerais havia proibido a comercialização da série Counter-Strike, no qual é simulado um confronto entre policiais e traficantes em uma favela.
Na sociedade do conhecimento, onde a informação é tida como o bem mais valioso para o ser humano, parece não haver tempo para se parar e medir os reflexos (os efeitos) que tal situação já está gerando para a sociedade. Ou será que é impossível associar, por exemplo, que as gangues que se enfrentam com todo o tipo de arma todos os domingos nos estádios de futebol, trazendo terror e espalhando horror nas pessoas de bem que só querem ir aos estádios para se divertirem, têm em seus integrantes adeptos incondicionais de tais jogos?
É evidente que os games que disseminam a violência não são, exclusivamente, responsáveis por todas as mazelas da juventude contemporânea, mais até prova em contrário, para mim estão no topo da lista das supostas causas, e como tal, merecem uma atenção especial por parte dos educadores (pais e professores) e dos governantes, em todas as esferas públicas, sejam elas federais, estaduais ou municipais. Quanto mais fecharmos os olhos sobre a questão, mais alimentaremos o processo de perpetuação de seus efeitos que podem ser extremamente danosos.
No entanto, há quem não pense assim. Existem estudiosos, donos de lan house e psiquiatra especializado em infância e juventude que defendem que os videogames não determinam se a pessoa será mais ou menos violenta. Será? Não é o que pensa o deputado estadual Kalil Sehbe, do Rio Grande do Sul, autor de Projeto de Lei aprovada em fevereiro de 2009 que proíbe a utilização de games como os citados em lan houses, lojas de informática ou estabelecimentos similares no Estado, ao que consta carecendo ainda de regulamentação para ser sancionada pela governadora Yeda Crusius. O deputado revelou que a iniciativa do Projeto de Lei ocorreu face aos inúmeros pedidos encaminhados por pais preocupados com o comportamento dos filhos.
E você, o que pensa sobre o assunto? Tá ligado?

Uma palavra de fé

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16